terça-feira, 13 de setembro de 2011

O Trabalho Interdisciplinar nas Equipes de Referência: Medidas Socioeducativas

- Uma experiência em meio aberto -

Nos debruçamos, a partir do que foi discutido no terceiro seminário do CREAS/SL no dia 22 de julho de 2011, para (des)construir o trabalho interdisciplinar nas equipes de referências.

Com o objetivo de estar dialogando apartir da troca de experiências de outros sujeitos acerca da interdisciplinaridade, pudemos perceber que esta se dá sob dois aspectos:

Do ponto de vista institucional, onde a equipe pré existe, e está instituída. São as equipes profissionais ou multi-profissionais que trabalham juntas, tem sua carga-horária determinada, e ao término do seu horário, a equipe se desfaz e as pessoas irão cumprir outras atividades fora do trabalho, voltando a se encontrar novamente no dia seguinte. Quando estamos trabalhando em rede, as equipes terão que dialogar com outras equipes de outra política pública.

E existe uma outra forma de perceber o trabalho interdisciplinar, onde a equipe, se reune para trabalhar em um determinado “tema”, seja com a família, ou com o adolescente e após o término do atendimento, a equipe se diluirá. Não é uma equipe instituída, mas uma equipe que se formou a partir de um determinado assunto. Podemos citar como exemplo, as discussões de caso com a rede de atendimento e famílias, onde poderemos construir algo juntos e após essa construção, a equipe se dissolverá. É importante destacar, que não se trata de convencer ninguém do que é certo ou errado, mas sim, da possibilidade de se construir algo.

Trabalhamos com pessoas e saberes diferenciados, onde todas as ações estarão atravessadas por um viés interdisciplinar e muitas vezes transdisciplinar. É importante um trabalho horizontal, que se desenvolva em uma perspectiva de mundo e sociedade que pode ser transformado, para que aconteça o vínculo com as famílias e com os jovens.

Os saberes, não estão prontos, o técnico não tem a verdade absoluta. Aprendemos muito com as famílias e com os adolescentes, é uma troca muito rica de saberes. É importante trabalharmos na lógica da cidadania, onde os adolescentes possam desenvolver e assumir um outro caminho possível.

O trabalho em rede é fundamental. A intersetorialidade é necessária. Os programas e projetos precisam estarem conectados com as redes sociais. Precisamos abrir espaços para as reflexões, sensibilizar as comunidades a cerca da visibilidade do adolescente. O pré conceito é muito forte, e é o grande estigma no que diz respeito a invisibilidade do jovem. O adolescente é colocado como sendo o responsável por seus atos, justificando portanto, a violência contra ele mesmo, dando respaldo para este jovem tornar-se “visível” de forma negativa, fazendo com que retorne a criminalidade. É preciso desmistificar e sensibilizar as comunidades para que entendam e aceitem os adolescentes como sua responsabilidade . Este, é um compromisso que deve ser assumido!

Pablo Potrich Corazza (psicólogo e educador) nos trouxe a experiência de seu trabalho no Paraná. Para ele, existem uma gama de fatores que influenciam no trabalho interdisciplinar, e auxiliaram na construção da metodologia de trabalho desenvolvido pelo CREAS de Piraquara. São elas:

A complexibilidade de se entender que as coisas não são “causa e efeito”, não são lineares, e essa complexidade irá influenciar no atendimento. Não podemos ser deterministas.A partir do momento em que olhamos de forma linear, não avançamos e acabamos retrocedendo;

A intersubjetividade, onde a realidade é construída a partir das nossas vivências, das nossas conversas;

A imprevisibilidade, pois não temos como prever o futuro.

O mito da periculosidade onde os jovens pobres são perigosos. Tem mais a ver com a história da construção da sociedade brasileira, da divisão de classes;

O mito da justiça, ressaltando sobre a idoneidade do Sistema de Garantia de Direitos que irá trazer responsabilidade ao adolescente;

O mito do Controle a docilidade, onde o Estado terá mais controle sobre a vida das pessoas e através dos Serviços e seus profissionais, tornarão esses jovens que desviam das normas, mais dóceis, e capazes de produzirem melhor.

Conceitos como estes, ajudaram na construção da metodologia de trabalho do CREAS, ao qual ele coordenava. Este trabalho era horizontal, plural, onde os adolescentes muitas vezes participavam das reuniões de equipes, as oficinas eram abertas, e outros adolescentes de medidas protetivas ou de escolas também participavam como voluntários, rompendo com uma lógica onde o adolescente que infracionou ficará isolado da sociedade, cumprindo a medida socioeducativa.

Nos relatórios assinavam: o técnico, o educador, o adolescente e um membro da família, pois entendia-se que estes eram os sujeitos envolvidos e todos deveriam assinar. Foi acordado com o Juiz e com o Ministério Público que seria dessa forma. Não tem como efetivar um trabalho socioeducativo, interdisciplinar sem contar com o apoio do judiciário.

Acredito, dentro dessa perspectiva, que o trabalho com as Medidas Socioeducativas precisa ser visto como um Direito e não como um serviço apenas. Onde prática e teoria sejam discutidas nas reuniões e com a participação do adolescente, na formação da equipe, levando os saberes populares para os campos de pesquisa. A medida socioeducativa precisa ser desinstitucionalizada (com maior participação das famílias e adolescentes). É um campo diferenciado e o Serviço precisa fazer essa diferenciação, promovendo o diálogo.

Ivania Rossato – Educadora Social – CREAS/SL

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