quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Vinculação no trabalho do educador social


A educação social é um tema relativamente recente no Brasil. No entanto, a temática social carrega consigo uma rica história de lutas sociais, oficializada pelo trabalho da igreja católica e dos movimentos sociais.

Neste caminho, a figura do educador social foi se concretizando enquanto profissional da área atuando junto a diferentes públicos – crianças, adolescentes, jovens, adultos e, mais recentemente, idosos. Quando refiro profissional estou querendo assinalar que um “novo” campo de trabalho se configura, na medida em que certos critérios de exigência definem o perfil de quem vai ocupar este lugar.

A magnitude e a complexidade dos problemas sociais permitem o entrelaçamento de saberes múltiplos, enriquecendo a ação pedagógica. Assim, equipes multidisciplinares concebidas por pedagogos, psicólogos, assistentes sociais, sociólogos e outros, podem contar com o trabalho do educador social, como mais um técnico da educação social.

A política da Educação Social aparece como sendo a reflexão que orienta a intervenção socioeducativa com um conjunto de programas, de atividades ou de ações que, pelo aparato educativo, intervêm para a transformação do contexto social. Mais do que uma definição teórica e conceitual, a configuração do campo de trabalho do educador social precisa ser pragmática, isto é, responder aos desafios colocados pela dinâmica da própria sociedade e das transformações sociais, assim como preencher lacunas e ocupar espaços criados, tanto pela sociedade civil organizada, quanto pelo desenho das políticas públicas e sociais.

Há ainda, a necessidade de um estatuto que legitime a profissão educador social enquanto categoria profissional, em tramite no Congresso, mas o certo é que há um trabalho sendo desenvolvido e para isso alguns aportes são necessários para dar respostas aos desafios da prática de forma mais emergente.

Assim, o seminário proposto com o tema Vínculos como possibilidade de Intervenção, constitui-se em espaço oportuno para tal discussão. O tema proposto pelo seminário suscita a reflexão sobre uma questão muito pertinente ao trabalho do educador social – a presença. Presença no aspecto de ser e estar presente na relação educativa, no vínculo e na atuação profissional e técnica. Termo desenvolvido pelo educador Antônio Carlos Gomes da Costa (1999), que pretende ser aporte teórico-prático da ação socioeducativa. Segundo Costa (1999) :

(...) sem presença educativa, o jovem não se sente compreendido e aceito, e, se isto não ocorre, ele se torna incapaz de compreender e aceitar a si mesmo, inviabilizando qualquer tentativa de levá-lo a aceitar e compreender as demais pessoas (p. 15).
O educador social esta na base do processo. É pelas mãos do educador que a intervenção socioeducativa acontece. A intervenção social é definida por alguns autores como uma ação organizada e intencional. Esta intervenção deve ser impregnada de sentido.

Toda ação educativa prevê inicialmente a vinculação como necessidade básica da consolidação dos laços entre educadores e educandos. Não há neutralidade na intervenção socioeducativa, por mais pontual que seja há sempre o estabelecimento de algum vínculo; seja pelo olhar, pelo toque no ombro, pelo empréstimo do ouvido ou mesmo pela palavra de conforto. A intervenção socioeducativa possibilita identificar, construir e reconstruir laços de significação com o educando. Para isso o educador precisa desenvolver uma análise social adequada às ações de intervenção socioeducativa, em qualquer contexto de atuação profissional, promovendo valores vinculados à cidadania e aos direito humanos.

Para isso refiro a presença como conceito central de toda e qualquer intervenção e que confirma seu sentido quando nos colocamos a refletir sobre o vínculo como possibilidade de intervenção.
O trabalho educativo é uma fonte inesgotável de aprendizagem e o educador social precisa ter em mente que ele atua no fim de uma corrente de omissões e negações.
A capacidade de fazer-se presente, de forma construtiva, na realidade do educando não é segundo Costa (1999):

(...) como muitos preferem pensar – um dom, uma característica pessoal intransferível de certos indivíduos. Ao contrário, é uma aptidão possível de ser aprendida, desde que haja, da parte de quem se propõe a aprender, uma disposição interior (abertura, sensibilidade, compromisso). Essa aprendizagem requer a implicação inteira do educador no ato de educar.

No entanto, há que se considerar a dialética proximidade-distanciamento. Por proximidade podemos entender como o movimento realizado pelo educador acerca do universo do educando, procurando identificar-se com a sua problemática, de forma calorosa, empática e significativa, buscando uma relação realmente de qualidade. Por distanciamento, entendemos o afastamento do educador no plano da crítica, buscando, a partir do ponto de vista da totalidade do processo, perceber o modo como seus atos se encadeiam na concatenação dos acontecimentos que configuram o desenrolar da ação educativa.

Na prática, as manifestações inquietantes do educando - impulsos agressivos, revoltas, inibições, intolerância a qualquer tipo de norma, apatia, alheamento e indiferença -, podem indicar outros aspectos que aqueles perceptíveis no primeiro instante da ação. Deve o educador se situar num ângulo que permita ver, além dos aspectos negativos, o pedido de auxilio de alguém que, de forma confusa, procura atenção, conforto e perspectiva.

Desse modo, o papel do educador no processo de vinculação com o educando é fundamental. Fazer-se presença construtiva na vida do educando é a primeira tarefa de um educador que aspire assumir um papel realmente emancipador no processo educativo, resgatando o que há de positivo no sujeito. Lembrando que ser educador social implica numa escolha de si mesmo, enquanto homem e enquanto cidadão.

Karine Santos
Educadora Social

1 .COSTA, Antônio Carlos Gomes da. A Presença da Pedagogia: Teoria e prática da ação socioeducativa. São Paulo: Global, 1999.

Um comentário:

José celestino dos Santos Filho disse...

Meu nome é José Celestino dos Santos Filho, assumi a função de Educador Social em minha cidade Jardim do Serido, Estado do Rio Grande do Norte, gostaria de trocar idéias pelo e-mail celestebruna@hotmail.com